Mesmo que mais empresas aceitem acordos de trabalho remoto, o padrão de estar disponível das 9h às 18h apresenta poucos sinais de enfraquecimento. O horário comercial não dá indícios de que vai acabar tão cedo.
Arranjos assíncronos – o que significa que os funcionários realizam o trabalho em seus próprios horários e não precisam estar online ao mesmo tempo que seus colegas de trabalho – permanecem raros fora do universo de startups e empresas de tecnologia.
Embora o trabalho remoto ofereça mais flexibilidade de horário do que o escritório – permitindo tempo para lavar a roupa ou levar o cachorro para passear, por exemplo – muitas pessoas ainda se sentem pressionadas a ter um “ponto verde” no software do local de trabalho que mostra que estão online e trabalhando.
Grande parte dessa pressão vem de líderes e gerentes que se apegam a normas um pouco ultrapassadas que definem profissionalismo. Ainda é preciso ter uma discussão mais ampla sobre as normas profissionais e o que significa ser um bom funcionário. Mas é importante lembrar que estamos no início dessas mudanças, e muitos ajustes ainda podem ser feitos.
Em geral, quando os executivos das empresas são questionados sobre flexibilidade de horários, eles geralmente ficam alarmados, e usam expressões como: “mas nós temos tantas reuniões”. No entanto, ter flexibilidade de horário não significa trabalhar em todas as horas ou que os funcionários nunca se encontrarão pessoalmente. Pelo contrário, muitas pessoas querem limites mais claros em torno de quando devem responder às mensagens. Isso abre espaço para que as organizações criem uma certa flexibilidade dentro de uma estrutura.
Empresas que já adotam o modelo assíncrono apostam num modelo de “horários principais de trabalho”, em que os colegas ficam todos online por um período de tempo definido e limitado. Inclusive, acordos em nível de equipe para que todos estejam na mesma página em termos de como o trabalho será feito ajudam a manter e acompanhar o progresso de forma transparente.
A Crunchbase Inc, uma empresa de software, estabeleceu uma política central de horas de trabalho quando se tornou remota no ano passado. Como a empresa estava contratando funcionários em fusos horários diferentes, reservou o horário das 13h às 18h no fuso de Nova York para reuniões e trabalho síncrono.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Fórum do futuro da Slack Technologies, os trabalhadores que têm flexibilidade total de horário são 30% mais produtivos do que aqueles que não podem mudar de horário. Os funcionários com flexibilidade de horário dizem que podem se concentrar melhor e ter um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Trabalhadores sem flexibilidade de horário também são duas vezes mais propensos a procurar um novo emprego no próximo ano em comparação com aqueles que têm flexibilidade moderada de horário.
É válido lembrar que o horário comercial foi implementado por Henry Ford em 1926 e mesmo que a origem desse modelo tenha pouca relação com os modelos modernos de trabalho, o horário está tão arraigado na nossa cultura, economia e vida social que se torna muito difícil abandonar esse hábito, mesmo que existam soluções melhores atualmente.
No fim das contas, lentamente estamos caminhando para um modelo baseado em autonomia dos trabalhadores e confiança na entrega do trabalho, com menos pressão e normas baseadas apenas em presença.