A verdade é que o mundo do trabalho já estava doente antes do coronavírus, mas a pandemia colocou foguetes na mudança cultural. Nos Estados Unidos esse impacto já está sendo visível. Durante a chamada “Grande Demissão de 2021”, milhões de trabalhadores americanos se demitiram em massa enquanto trabalhadores em todo o mundo declararam que deixariam seus empregos se não tivessem flexibilidade.
Esses movimentos não surpreendem: o McKinsey Global Institute estima que pelo menos 25% dos funcionários trabalharão permanentemente em uma base híbrida, passando a maior parte do tempo em casa. As discussões sobre o RTO (retorno ao escritório) estão cada vez mais tensas.
O chamado para voltar ao escritório tem sido feito, mas muitos funcionários estão rejeitando essa opção. Enquanto isso, os CEOs precisam lidar com equipes que desejam mais flexibilidade, capacidade de trabalhar remotamente e até mesmo a capacidade de escolher seu horário de trabalho – e isso sem corte salarial.
Como o número de pessoas que podem escolher como gerenciar o tempo de trabalho aumentou, as discussões em torno desse assunto também estão aquecidas. As conversas sobre a semana de trabalho de quatro dias atingiram uma intensidade nunca antes vista. Trabalhar no horário comercial logo logo vai ser ultrapassado.
Ainda não estamos nem perto da famosa semana de trabalho de 15 horas que John Maynard Keynes previu na década de 1930, mas sua previsão parece cada vez mais relevante. As pessoas reconhecem que seu trabalho e, portanto, seu tempo, é uma mercadoria muito valiosa e querem ter um controle maior sobre quando e onde vendê-lo.
Bruce Daisley, uma autoridade no futuro do trabalho e apresentador do podcast Eat Sleep Work Repeat, observa de perto a tendência do trabalho híbrido. Ele disse que a abordagem mais perspicaz que já viu foi do Dropbox, que disse no final de 2020 que levar as pessoas ao escritório por um certo número de dias ou dias específicos não funciona. Porque as pessoas pensam, por que vou ao escritório na quarta-feira? Só porque é quarta-feira não faz sentido. As pessoas irão ao escritório quando forem viver experiências.
Todos os dados e experiências indicam que a pressão não resolve o problema. As pessoas não voltarão ao escritório felizes, por obrigação. E se voltarem, não permanecerão leais por muito tempo. No verão de 2021, o Google enfrentou um descontentamento significativo dos funcionários quando anunciou que pretendia usar sua calculadora de pagamento para implementar o pagamento de acordo com a proximidade do escritório, refletindo a prioridade que alguns empregadores ainda colocam no presencial. Atualmente a Apple para por problemas semelhantes, já que boa parte da sua força de trabalho não quer voltar ao escritório.
No final das contas, a pergunta para os líderes que querem seu pessoal de volta ao cargo é: por quê? É porque regular alguns trabalhos em casa é legalmente complexo? É ponto de vista? A gerência e os líderes se sentem emocionalmente imersos em escritórios de alta especificação, alta tecnologia e visíveis? Ou é uma falha em compreender a escala e a amplitude da mudança?
A mobilidade e o trabalho já estão embutidos em nós. Os antigos trabalhadores de escritórios agora já vivem como se sempre tivessem sido remotos. E temos um novo centro de trabalho que não é necessariamente um grande prédio espelhado e sim o home office.